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Indiana Jones – sem Spielberg adeus magia…

Indiana Jones e o Marcador do Destino, de James Mangold, será supostamente o último Indy. Franca desilusão, passou na seleção oficial, fora de competição. Na competição, Sean Penn a salvar vidas com lugares comuns em Black Flies.

Ébom saber que Cannes consegue ainda convencer os estúdios de Hollywood a aceitar colocar aqui em antestreia blockbusters gigantes. Os mais puristas torcem o nariz, sobretudo quando são sequelas, como no ano passado Top Gun: Maverick. O problema é quando esses filmes não têm o pedigree de um festival com este. Acontece com novo Indiana Jones, o primeiro sem Steven Spielberg ao leme. O escolhido pela Disney e Paramount foi James Mangold, cineasta que alterna o bom, Walk the Line, com o sofrível, Kate e Leopold.

Na verdade, em quase duas horas e meia, nesta nova aventura não se sente nenhuma ideia legítima de cinema, apenas o cumprir com o aparato industrial da ordem e atafulhar efeitos visuais supostamente milionários mas que dão sempre uma artificialidade de CGI (imagens geradas por computador), capazes de anular a escala e a sensação de pertença física dos lugares, coisa que era tão bem gerida por Spielberg. Aliás, os efeitos de rejuvenescimento digital dos corpos e rostos de Mads Mikkelsen e Harrison Ford sugerem mesmo uma espécie de condescendência à estética dos videojogos.

E foram precisos quatro argumentistas, entre os quais David Koepp, de Parque Jurássico e Missão: Impossível, e Jez Butterworth, reputado dramaturgo, para criarem uma continuação que põe Indy metade do filme a queixar-se do seu envelhecimento ao mesmo tempo que tenta salvar o mundo de um perigoso artefacto de Arquimedes que poderá cair em mãos de nazis – não é por acaso que o começo nos leva a 1939 e daí a razão do embaraçante “de-aging” de Ford.

Longa, demasiado longa, e com soluções narrativas que não pertencem ao universo de Indiana Jones, esta quarta sequela talvez esteja mais perto de certos filmes da Marvel, sobretudo quando encena uma variante da intriga com elementos de fantasia pertencentes à espécie do filme de “viagem no tempo”. Percebe-se a tentação da extravagância mas suspense e emoção ficam de fora.

Uma ambulância em Nova Iorque

Na competição oficial, há também outra deceção, esta provavelmente mais esperada: Black Flies, do francês Jean-Stéphane Sauvaire, com Sean Penn e Tye Shediran como uma dupla de paramédicos numa ambulância de Nova Iorque. Um filme que dispensa o realismo ou o docudrama para fazer “espetáculo visual” com a sombra dos mortos.

Pensa-se em Scorsese em Por um Fio e em Cristi Puiu em A Morte do Senhor Lazarescu e só se encontra cópia, mimetismo preguiçoso. As moscas pretas do título referem-se a uma analogia sobre o cheiro da morte nesta viagem cheia de clichés aos infernos de Nova Iorque onde se encontram vítimas de alcoolismo, drogas e abusos domésticos. O maior cliché de todos é a insistência na “perspetiva” do novato que perde a inocência depois de ver a morte tão perto.

Fica também a impressão que é um daqueles filmes financiados em função da vaidade artística dos atores em pose de “imersão” total num papel de “superação”. Não é por acaso que tanto Sheridan como Penn aparecem como produtores no genérico… Há muito que a seleção oficial não tinha um clamoroso equívoco como este. Sauvaire tem anjos protetores neste comité de seleção: os anteriores Johnny Mad Dog (2008) e Prece ao Nascer do Dia (2017) já tinham tido carimbo cannois.

 

 

 

This article is originally published by dn.pt

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